Chouriço e presunto
alimentam os dias de mulher de 103 anos
O facto de nunca ter
casado e o presunto e chouriço que não dispensa como petiscos poderão
ser os segredos da longevidade de Ermelinda Barbosa, uma mulher de
Ferreira, Paredes de Coura, que completou 103 anos.
“Continua muito
esperta, muito lúcida. Há dias em que canta e fala que mais parece
uma cassete. E ainda não desistiu de fazer renda”, disse ontem à
agência Lusa, Ana Barbosa, neta da centenária e sua “ama” há 36 anos,
desde que as pernas atraiçoaram a idosa e a “aprisionaram” à cama.
“Tirando o problema
das pernas, é uma mulher que transpira saúde. Não toma um único
remédio, não se queixa de nada”, acrescenta a neta.
A “tia Ermelinda do
Sô”, como é conhecida na aldeia, deu à luz três filhos, mas nunca
quis casar, porque viu o que a sua mãe “passou” com o marido e a
“muita água que ele lhe fez chorar”.
Por isso, e porque
defende que “mais vale só do que mal acompanhada”, deixou o pai dos
seus três filhos “ir à sua vida” e assumiu ela, por inteiro, a
responsabilidade de os criar.
Tem sete netos e
nove bisnetos, que ajudou a criar quando os pais iam trabalhar e que
hoje a cobrem de mimos e enchem os seus dias de carinho e de ternura.
Confessa que foi, na sua mocidade, “muito namoradeira” e que gostava
de cantigas e danças, mas tinha sempre muito cuidado para não lhe
porem a mão.
“O respeitinho é
muito bonito”, afirma. “A pulga, quando mordia, apanhava-se e
matava-se”, acrescenta, com humor.
Uma vida inteira
dedicada à lavoura, “tia Ermelinda” não sabe ler, porque os pais não
a deixaram ir à escola, mas garante que, de contas, “não há nenhum
doutor que lhe passe a perna”. Diz quem a conheceu que foi uma exímia
negociadora de gado, utilizando uma máxima que nunca falhava: “O
pedir muito, tira-se. O pedir pouco, fica a palavra”.
É claro que ela,
mulher de palavra, pedia sempre muito, para depois, perante a
insistência do comprador, acabar por tirar um bocadinho e assim
“ficavam ambos contentes” com o negócio.
Agora, em vésperas
de completar 103 anos, diz que está “no céu em vida” e só pede a
Nossa Senhora que lhe conserve a “neta-ama” por muitos anos e lhe dê
saúde para continuar a enfrentar a vida com a mesma autoridade com
que, no passado, enfrentava os compradores de gado.
Além de sopas e
pratos com presunto, chouriço e outras carnes de porco, Ermelinda
Barbosa também não dispensa o seu cafezinho depois do almoço.
Depois, de forças
retemperadas, fala pelos cotovelos e canta cantigas antigas, ao mesmo
tempo que faz renda. Muitas vezes engana-se, escangalha e volta para
trás. E assim vai matando o tempo.
“Se calhar, é por
tanto matar o tempo que toda a gente diz que os anos por ela não
passam”, afirma a neta, a brincar.
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Fonte: Diário as beiras on-line, PT,
09/03/2007.
Disponível em:
http://www.asbeiras.pt/index2.php?area=geral&numero=39671&ed=10032007