Exposição em
Nova York revela a cara feia da beleza
Alejandra Villasmil
A
recente polêmica gerada pela proibição de modelos anoréxicas
desfilarem em algumas passarelas internacionais chegou a um museu de
Nova York, onde uma exposição explora os padrões estéticos e revela a
"cara feia da beleza".
Sob o eloqüente título de "Beleza perigosa", a mostra do Museu de
Arte de Chelsea, que ficará aberta até o final de abril, procura
desafiar os ideais de beleza da sociedade contemporânea, em sua
grande maioria definidos e alimentados pelo consumismo.
As obras capturam a ansiedade de uma sociedade centrada na beleza,
fazem conexões interessantes entre conceitos como beleza e violência,
e abordam temas como o medo da velhice, a bulimia e a anorexia, as
cirurgias plásticas e a lipoaspiração.
São obras de uma beleza perigosa, uma área onde o mito da beleza se
choca com a realidade.
"As obras examinam o fenômeno e as implicações dos atuais padrões de
beleza e identidade, e questionam se há espaço para o subjetivo e o
individual, em uma sociedade de expressão em massa", assinala a
curadora da mostra, Manon Slome.
Ao entrar na exposição, o espectador se depara com uma instalação de
Jacob Dahlgren no chão, intitulada "O céu é um lugar na terra"
(2006), uma plataforma composta por balanças de banho vermelhas,
azuis e brancas, sobre as quais é possível caminhar.
A preocupação com o peso também é abordada pela artista Argentina
Nicola Costantino, que considera que tentar alcançar uma boa forma é
um plano de vida ambicioso, já que a pessoa se propõe a esculpir,
literalmente, seu próprio corpo.
Seu projeto, "Savon de Corps", é uma edição de cem sabões que contêm
3% de gordura do seu corpo, em forma de tronco do corpo humano
feminino.
O tecido adiposo - de cerca de dois quilos no total - foi obtido
através de uma lipoaspiração, à qual Costantino se submeteu para este
projeto, apresentado com uma estratégia de marketing com a
imagem da artista seminua e um slogan em francês: "Idioma do glamour
e da cosmética".
Segundo Costantino, a estratégia de marketing habitual para
comercializar cosméticos se baseia na identificação do público com um
personagem famoso, como uma modelo ou uma atriz, e não no artigo em
si.
Em "Savon de Corps", a artista não é a cara, mas a matéria-prima do
produto. Por isso, o público não comprará a imagem, e sim o corpo da
modelo, em uma nova concepção de consumo.
A cirurgia estética como "performance" tem suas origens na artista
francesa Orlán, também incluída nesta exposição com uma documentação
fotográfica de sua obra "A reencarnação de Santa Orlán".
Conhecida como a criadora da "arte carnal", Orlán fez diversas
cirurgias em seu rosto, mas a artista plástica não buscava atingir um
padrão de beleza, nem criticar a cirurgia estética. Seu objetivo era
questionar "os ditames de uma ideologia dominante (a masculina), que
molda a si mesma com a carne feminina".
Em 1990, Orlán começou a se submeter a nove cirurgias plásticas.
Assim, transformava seu rosto no de personagens femininos mitológicos
ou pictóricos, como Vênus e Mona Lisa.
"Escolhi estes personagens não pelos padrões de beleza que,
teoricamente, representam, e sim pelas histórias associadas a eles.
Diana, por exemplo, não aceita se submeter aos deuses e aos homens.
Ela é ativa, inclusive agressiva", diz a artista.
Uma das cirurgias mais conhecidas de Orlán foi "Onipresença", um
implante de protuberâncias na testa, para emular as da Mona Lisa, e
que resultaram em espécies de chifres, que tornaram a artista
mundialmente conhecida.
Outros artistas em "Beleza perigosa" abordam o ato de modificiar o
próprio corpo por causa de preocupações estéticas, como é o caso das
fotografias de jovens modelos feitas por Lauren Greenfield, ou a
estética da velhice, representada na série de fotos de Erwin Olaf,
com mulheres maduras em poses e roupas sedutoras.
A mostra também tem a participação de Marilyn Minter, Martin C.
De Waal, Barbara Kruger, Sylvie Fleury e Tom Sanford, este último com
retratos de Nicole Richie, Paris Hilton e das irmãs Mary Kate e
Ashley Olsen.
_________________________
Fonte:Uol-Estilo-Últimas Notícias, 01/03/2007.
Disponível em:
http://estilo.uol.com.br/ultnot/2007/03/01/ult1817u5987.jhtm