Superidosos... em todos os sentidos 

Como viver com plenitude depois dos 75 anos

Lola Felix, [email protected]

'Por favor, me respeite, tenho mais idade e experiência do que você'. Nos próximos anos, não vai ser difícil ouvir um senhor de 80 dizendo essa para o amigo 'molecão' de 65. Eles fazem parte do grupo dos super idosos, no qual estão as pessoas com mais de 75 anos de idade.

'A classificação, que em inglês recebe o nome de 'old old', surgiu para facilitar o atendimento na área da saúde e ficou mais popular com o processo de envelhecimento pelo qual o mundo passa', explica a geriatra Patricia Amante, do Hospital do Coração (HCor).

Os superidosos merecem a atenção - da família, dos médicos e do sistema de saúde - porque, quanto mais idosa a pessoa é, maiores as chances de desenvolvimento de doenças crônicas. Alzheimer, doenças de Parkinson, hipertensão, diabetes e neoplasias já estão entre as maiores causas de morte nos países desenvolvidos. E, aqui no Brasil, elas ficam cada vez mais populares.

Geriatra do Projeto Age, Giulianna Forte diz que o grande medo dos idosos é a dependência. 'Eles temem perder a autonomia mais do que a morte', diz. Contra esse fantasma, especialistas indicam a prevenção, embora muitas doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, não possam ser evitadas.

Pesquisas recentes, no entanto, vêm ligando uma vida intelectual ativa à diminuição do risco destas doenças. Atividades como palavra cruzada, artesanato, aulas de língua estrangeira ou música e dança de salão ajudariam o cérebro a se manter alerta.

Cento e um anos completados no dia 17, Clara (nome fictício) acha que o segredo para uma melhor idade que faça jus à expressão é o trabalho. 'Sempre tive um objetivo na vida', diz ela. O único problema que ela carrega é uma dor na perna, por causa de uma prótese no fêmur. Fora isso, adora sair para andar (usa uma bengala de vez em quando), ir à festas e visitar amigos. E adora passar seu otimismo para os outros.

Nutrição também é algo que muda para o pessoal VIP da melhor idade. A alimentação fracionada faz bem à qualquer pessoa, independentemente da idade. Mas os superidosos devem seguir esta recomendação à risca. 'Eles respondem mal a grandes volumes de alimentos e, por isso, precisam de refeições mais fracionadas', diz o nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni, do Hospital do Coração (HCor).

Esse grupo também deve evitar alimentos que fermentam, coisas ácidas, condimentadas e açúcares. Bons para qualquer idade, legumes, frutas e verduras estão liberados.

'Todos devem consultar o nutrólogo ou geriatra para saber o que comer, mas a alimentação, para esta faixa etária, fica em torno de 30 a 50 calorias diárias por quilo (do peso da pessoa)', diz Magnoni.

Outro ponto importante é que as recomendações sejam seguidas com vontade, para que o idoso consiga levá-las adiante por um tempo considerável. O ideal é que, como o netinho de menos de um ano de idade, ele faça as coisas por prazer.

A população idosa em números

Estudos da Organização das Nações Unidas indicam que o Brasil é um dos dez países com maior quantidade de idosos.

Segundo o IBGE, para cada 100 jovens, existem 25 idosos no Brasil. Ou seja, 9,7% da população tem mais de 60 anos de idade. A maior parte são mulheres. Para cada 100 brasileiras com mais de 65 anos existem 78,6 homens.

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo, o ponto de corte para 'ser um idoso' é 60 anos. Nos países desenvolvidos, o ponto é 65 anos.

À medida que a proporção de idosos aumenta, a tendência é de elevação do ponto de corte.

Com o envelhecimento gradual da população, foram criados termos para subclassificar os idosos. De 65 a 75 anos = old; 76 a 85 = very old e, acima de 85, old-old.

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer, em 2000, era de 66 anos, para homens e 74 anos, para mulheres. O IBGE calcula que, em 2020, esta expectativa será de 72 e 79 anos, respectivamente.


O envelhecimento e as chances de desenvolvimento de doenças crônicas dependem de muitos fatores externos, além da própria genética. Isso nos diferencia e faz com que tenhamos várias diferenças, mesmo tendo a mesma faixa etária.

 

Quanto mais idoso, maiores as chances de desenvolver doenças crônicas como Alzheimer, doença de Parkinson, hipertensão, diabetes, neoplasias e, portanto, aumentar sua fragilidade e dependência.

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Fonte: Jornal da Tarde, 27/02/2007.
Disponível em:
http://www.jt.com.br/editorias/2007/02/27/ger-1.94.4.20070227.8.1.xml?